Tem muita gente disposta a aprender mais sobre tecnologia e o Minas Programam quer ter um papel ativo em apoiar o desenvolvimento de novos projetos. Por esse motivo, um dos nossos objetivos dos últimos anos tem sido compartilhar o que sabemos com outras pessoas e iniciativas interessadas em criar projetos de ensino de programação e tecnologia. 

Não temos todas as respostas, mas compartilhar nossas experiências sobre construir um curso de programação para meninas e mulheres negras é uma forma de contribuir para a disseminação de iniciativas educacionais com potencial de democratizar o acesso ao conhecimento sobre tecnologia. Desde o começo de 2022, temos feito um esforço deliberado de conversar com diferentes grupos que estão criando iniciativas incríveis! 

Desde que lançamos a nossa chamada em fevereiro de 2022, conversamos com muita gente talentosa e cheia de conhecimentos para dividir! Foram grupos de São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Belo Horizonte e mais. 

Neste texto, queremos compartilhar algumas das reflexões, dilemas e ideias que mais estiveram presentes nas nossas conversas. 

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Tá tudo bem começar sem “perfeição”

Muitas vezes falamos com pessoas e/ou grupos que sentem uma pressão para lançar projetos “perfeitos”. Em nossa experiência, esperar o momento em que tudo está “perfeito” ou ideal pode ser paralisador. Acreditamos que está tudo bem começar com um projeto “pequeno” ou começar de forma “amadora” e ir evoluindo aos poucos. 

Por exemplo, de 2015 até aqui, o Minas Programam cresceu muito: nossa primeira turma teve cerca de 20 alunas, nossa equipe consistia de 3 pessoas e o projeto contava com apoio financeiro limitado. Hoje, mais de 7 anos depois, somos uma organização não-governamental, temos uma equipe de 7 pessoas, realizamos cursos robustos com o apoio de uma equipe de professoras talentosas e experientes, e recebemos cerca de 100 alunas todos os anos. O Instituto Minas Programam segue sendo uma organização pequena (do jeito que a gente gosta!), mas fomos construindo experiência e refinando nossas atividades e estruturas aos poucos. Nosso crescimento não teria acontecido se tivéssemos esperado para começar “com tudo perfeito”. 

Na prática: tente mapear os recursos que você tem à sua disposição! Estes recursos não precisam ser necessariamente financeiros. Quando o Minas Programam começou, por exemplo, não tínhamos dinheiro: contávamos com parcerias para conseguir computadores, espaço para realização das aulas e também uma rede de mobilização, Mesmo que não seja o arranjo “ideal” ou “perfeito”, procure identificar quais recursos estão disponíveis e o que você (ou seu projeto) consegue criar agora. 

O principal é o que importante para o seu contexto

Ao longo dos últimos meses, falamos com pessoas que estão criando iniciativas de ensino de programação em diferentes contextos do Brasil. Esta experiência nos mostrou o grande valor de projetos que focam nas suas comunidades locais, nos seus bairros e cidades. 

No Instituto Minas Programam, começamos com cursos de intro à programação para meninas e mulheres da periferia de São Paulo. Na nossa experiência, estar relativamente próximas das realidades das meninas e mulheres que queríamos apoiar foi fundamental para entender os desafios que elas enfrentavam e reconhecer o imenso potencial que elas tinham.  

Não existe só um jeito “certo” de fazer as coisas. Você não precisa criar um curso igual a outros que você viu por aí, nem uma plataforma igual aquela que você acha importantona, nem um canal no youtube igual àquele da influenciadora que você segue. Você pode criar aquilo que funciona melhor para o seu contexto. 

Na prática: Procure mapear o que as pessoas da sua comunidade, do seu bairro e da sua cidade precisam. É um curso de programação mais “tradicional”? São oficinas de literacia digital? Rodas de conversa sobre carreira? Um grupo de estudos autogestionado? Uma mentoria coletiva? Quanto mais próximo da sua comunidade e das pessoas que você pretende apoiar com sua iniciativa, melhor. 

Lembre-se de que código é só uma parte da história

Para além das decisões sobre quais linguagens de programação ensinar ou qual material didático usar, nós frequentemente nos deparamos com questões sociais que impactam diretamente as vidas das meninas e mulheres negras que fazem nossos cursos.

Na prática, isso significa que ao mesmo tempo em que focamos no ensino de programação, também é necessário refletir sobre temas como:

  • desigualdades no acesso à educação e o que isso significa para um curso de programação;
  • desigualdades no acesso à internet e às tecnologias digitais e o impacto nas vidas de estudantes negros e indígenas;
  • o peso do trabalho de cuidado, que recai mais fortemente sobre meninas e mulheres, afetando o tempo que elas podem dedicar à sua educação;
  • os estereótipos associados a quem está na tecnologia (ou não), e as consequências deles para a autoestima intelectual de pessoas negras;
  • e muitas outras questões!

Os desafios são enormes, mas é importante tê-los em mente e considerá-los na abordagem das atividades!

Procure parcerias

E por último, não deixe de procurar parcerias na sua cidade ou bairro. Na nossa história, as conexões com pessoas e grupos que já estavam à frente de iniciativas incríveis foi essencial. 

Na prática: procurar pessoas, instituições e grupos que possam te ajudar a construir sua iniciativa. Ou, (o que pode ser ainda melhor), procure entender como você pode apoiar iniciativas que já existem!

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Se você tem interesse em começar ou expandir seu projeto de ensino de programação, você pode marcar uma conversa com a gente aqui. Não é uma consultoria extensa, nem uma mentoria detalhada; apenas uma forma simples de dividir conhecimento para pessoas e/ou coletivos que queiram criar projetos similares e que não sabem por onde começar. Te esperamos por aqui