As adolescentes que estão cursando o ensino médio hoje estavam no ensino fundamental quando veio a pandemia de COVID-19 e assim, o isolamento, as aulas por videoconferência, todo mundo em casa, longe dos amigos, do ambiente escolar. Este foi um período muito assustador, principalmente para crianças e adolescentes que encontravam na escola pública o único meio para acessar a direitos como alimentação, lazer, computadores, livros e proteção para sua infância, inclusive em situações de violência doméstica.
Nesse âmbito, foram realizadas duas importantes pesquisas: “As desigualdades educacionais e a covid-19 | CEBRAP”, elaborado pelo núcleo Afro-CEBRAP (2020), e “O direito à educação de meninas negras em tempos de pandemia: o aprofundamento das desigualdades”, pelo Geledés – Instituto da Mulher Negra (2020).
Esses estudos demonstram que o Brasil não tem condições de oferecer uma educação básica de qualidade para crianças e adolescentes no formato à distância e que o acesso à internet é muito desigual. Quando as aulas passaram para o virtual, ainda faltava tablet e internet para as crianças das escolas públicas, e essa situação se manteve por meses.
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Em muitos lares, um único computador atendia todos os membros da família e as crianças não tinham um espaço adequado para estudar. Já a participação nas aulas através do celular era comprometida pela baixa qualidade da conexão à internet ou pela falta de dinheiro para comprar pacotes de dados.
A realidade de meninas negras e pobres das regiões periféricas se tornou ainda mais difícil porque, entre as outras atividades do dia a dia, as meninas trabalham mais em casa do que os meninos, e se comprometem desde a infância com a manutenção do ambiente doméstico, conforme demonstra a pesquisa do Instituto Geledes.
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Entre as principais consequências da pandemia sobre a educação, essa pesquisa destaca: aumento das desigualdades (75,8%); agravamento da saúde física e mental tanto das/os profissionais da educação (64,4%) quanto das/os estudantes (46,3%); aumento da violação de direitos e violências sofridas por crianças e adolescentes (45,6%); aumento da evasão escolar (40,2%); e desconstrução de vínculo entre sujeitos, escola e comunidade escolar (39,6%).
O empobrecimento da população e os déficits de aprendizagem resultantes dos prejuízos individuais e coletivos causados pela pandemia de COVID-19 afetam o ingresso de jovens no ensino superior até os dias de hoje. Compreendemos que esses desafios são recentes mas reconhecemos que eles fazem parte de um contexto mais amplo que é historicamente construído em nosso país.
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