Formada em Jogos Digitais pela FATEC de Carapicuíba, Tais é negra, periférica, e defende que “a mulher negra tem sim capacidade de aprender e deve se valorizar sempre”. Apesar de na época não saber muito bem do que era o curso, Tais se apaixonou por programação e hoje é Full Stack Web Developer.

No mercado de trabalho, ela nota que a disparidade salarial entre homens e mulheres ainda é um problema. Além disso, a falta de mulheres na área é uma questão que a acompanha desde sua formação. Com apenas outras 5 garotas na sua turma da FATEC, Tais conta que recebeu muito apoio das pessoas ao seu redor: “Para mim, o que fez a diferença foi o apoio que sempre recebi da minha família, dos meus professores e dos meus amigos.”

Veja a entrevista da Tais na íntegra:

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Minas Programam: Conta pra gente um pouco da sua história?

Tais: Meu nome é Tais, tenho 26 anos, sou negra e de origem humilde. Sou formada em Jogos  Digitais pela FATEC de Carapicuíba e moro em Osasco. Atualmente trabalho como Full Stack em uma empresa de Music Experience.

Minas Programam: Como foi a decisão de estudar e trabalhar com tecnologia?

Tais: Minha família não tinha condições de pagar uma faculdade, aí uma amiga minha me falou sobre a FATEC, que era gratuita e tinha um curso de Análise de Sistemas. Depois eles mudaram a grade e acabei saindo graduada como Jogos Digitais. Na época, todo mundo estava falando que era uma boa profissão e que estava tendo muita procura, então fiz a inscrição e passei. Nem sabia muito bem de que se tratava o curso ou que a maioria dos que cursavam eram homens. Junto comigo tinham mais ou menos umas 5 garotas e a maioria homens, mas eu fui muito bem recebida pelos meus colegas e professores e me apaixonei por programação. Hoje eu trabalho como Full Stack Web Developer.

Minas Programam: Você teve/tem que lidar com racismo e machismo nas instituições (de ensino e de trabalho) que você frequenta? Se sim, como foi essa experiência? Quais os principais obstáculos que enfrentou?

Tais: Não tive nenhuma experiência com racismo e preconceito durante meus estudos e em meus empregos (graças a Deus). Geralmente gostavam de apoiar uma mulher em uma profissão em que encontravam só homens. O que mais eu percebo hoje com relação à mulher é a questão do salário ser mais baixo, além de também não achar muitas meninas nos eventos e comunidades. Eu mesma gostaria de participar mais da comunidade de programadores.

Minas Programam: Qual a importância de discutirmos gênero e raça nas ciências e tecnologia?

Tais: Temos que discutir esse assunto para que a sociedade crie respeito e encare a todos como iguais.

Minas Programam: Vivemos em um contexto de constante menosprezo do intelecto das mulheres negras: ao longo de suas trajetórias educacionais, meninas negras são pouco estimuladas a seguirem carreiras que fogem dos estereótipos de sempre. Como você acha que podemos quebrar esse ciclo? Que oportunidades fizeram a diferença pra você?

Tais: Para mim, o que fez a diferença foi o apoio que sempre recebi da minha família, dos meus professores e dos meus amigos. Acho que iniciativas como a de vocês, comunidades e cursos feitos para mulheres devem ajudar a mostrar que a mulher negra tem sim capacidade de aprender e deve se valorizar sempre.