Por Laurel Raymond. Conteúdo originalmente publicado no Think Progress.

Existe uma enorme e crescente evidência de que mulheres nas áreas de exatas enfrentam preconceito de gênero. Em agosto desse ano, por exemplo, a engenheira de plataformas Isis Wenger participou de uma campanha de recrutamento, onde foi ridicularizada pela sua aparência e enfrentou a descrença de que ela era realmente uma engenheira. Ela lançou, então, a hashtag #iLookLikeAnEngineer (#EuAparentoSerUmaEngenheira) no Twitter, que se tornou viral através de tweets de mulheres e minorias nas áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática para combater estereótipos. No início do verão, o bioquímico ganhador do Prêmio Nobel Tim Hunt polemizou ao dizer que “o problema com as meninas” era que três coisas acontecem quando elas entram no laboratório: “você se apaixona por elas, elas se apaixonam por você, e quando você as critica, elas choram”.

Esses são exemplos chocantes – mas as evidências práticas dão fundamento a eles. Um estudo revelou que pesquisadores de ciências em universidades classificamcandidatos homens como sendo mais competentes, mais “empregáveis” e mais merecedores de salários iniciais maiores do que candidatas mulheres, mesmo quando os currículos são idênticos.

Recentemente, um novo estudo publicado pelo Proceedings of the National Academy of Science (PNAS) mostrou outro nível de polarização: muitos homens não acreditam que esse fenômeno esteja acontecendo.

Quando apresentados às evidências empíricas de tendências sexistas contra mulheres nas áreas de exatas, os homens dificilmente achavam que os estudos eram convincentes ou importantes, de acordo com pesquisadores da Universidade Estadual de Montana (MSU), da Universidade do Norte da Flórida e da Skidmore College.

Nas primeiras duas partes do experimento, participantes viam o verdadeiro resumo do estudo dos currículos-teste descrito anteriormente, juntamente com o nome do jornal que originalmente publicou e a data de publicação. Então, eles foram indagados para que julgassem se concordavam com a interpretação do autor, se a pesquisa era importante e a qualidade do resumo em si. A conclusão foi conduzida tanto por homens quanto por mulheres da população geral, e também por homens e mulheres de áreas de exatas e fora delas.

Os homens foram significativamente menos receptivos ao estudo do que as mulheres, em ambos os casos. Além disso, no caso dos profissionais das áreas de exatas, houve uma forte interação entre gênero e campo de estudo – o que significa que professores homens dificilmente acreditavam na evidência de sexismo contra mulheres em sua própria área. É importante notar que a análise dos pesquisadores revelou que a causa dessa interação estatística se deu porque professores homens eram mais propensos a julgarem a pesquisa severamente, e não porque as professoras não viam a pesquisa com positividade.

Na segunda parte do estudo, homens e mulheres viam um de dois resumos: um deles era real, indicando evidência de preconceito de gênero em campos de atuação da ciência, e o outro era uma versão modificada, sem nenhuma menção de sexismo. Para as mulheres, o estudo que mostrava tendências sexistas era mais persuasivo; já os homens não se convenciam pelo estudo original e achavam que a versão modificada era mais confiável.

Este estudo de acompanhamento revela algumas coisas cruciais. Em primeiro lugar, os resultados do primeiro estudo não são devido a uma tendência geral do sexo masculino para ser mais crítico, nem ao resumo escolhido. Em segundo lugar, há um pouco de preconceito inconsciente evidente em ambos os sexos, conforme mulheres foram mais persuadidas pelo resumo que confirmava as suas ideias sobre o preconceito de gênero. Dada a prevalência de homens nas ciências e a evidência real de preconceito de gênero, no entanto, o preconceito inconsciente dos homens revela-se mais insidioso.

Diplomas de bacharelado conferidos em 2012 para as áreas de Ciências, Tecnologia, Engenharias e Matemática. Azul: Mulheres. Amarelo: Homens.

 

Embora a diferença esteja diminuindo, as mulheres continuam sub-representadas nas ciências. De acordo com dados da Fundação Nacional de Ciência, enquanto mulheres representaram 57% das pessoas que se formaram em todas as áreas em 2012 e mais da metade dos diplomas conquistados nas ciências biológicas, elas se formam muito menos nas outras áreas das exatas: 39% dos diplomas em ciências geológicas, 43% em matemática e estatística, 19% em engenharia e 18% em ciência da computação. As mulheres também são sub-representadas fora da Academia: enquanto elas representam mais de 58% das pessoas que trabalham nas ciências sociais e 48% das que trabalham em ciências biológicas, continuam a representar apenas 13% daquelas em engenharia e 25% em ciência da computação e matemática.

O resultado é que homens dominam o campo de exatas por via do mercado de trabalho e do meio acadêmico. A única forma de mudar isso é confrontar a realidade da disparidade e as razões por trás dela, das quais o preconceito de gênero é, sem dúvidas, um fator contribuinte. O preconceito inconsciente pode distanciar mulheres de empregos, salários justos e oportunidades de orientação – e a persistente sensação de estar sendo desvalorizada pode afastá-la de seus laboratórios ou incentivá-las para uma área completamente diferente.

A única maneira de consertar um problema é, primeiramente, admitir que você tem um problema. No entanto, o novo estudo da PNAS identifica que a comunidade científica dominada por homens dificilmente fará isso, mesmo que confrontados com severas evidências.

Como os autores do estudo escrevem: “Como podemos ampliar a participação de mulheres nas áreas de exatas com sucesso, quando a própria pesquisa ressaltando a necessidade dessa iniciativa é menos valorizada pelo grupo majoritário que domina e mantêm a cultura de exatas?”


 

Tradução feita pelas participantes do projeto Minas Programam, Mariana Tiemi K e Bárbara Paes.