Depois da pandemia muita coisa mudou: as formas de trabalhar, de se conectar com outras pessoas, de estudar e de ver o mundo… A vida cronicamente online, que já era uma tendência, se consolidou como o jeito mais importante de existir e participar da sociedade, e isso está influenciando consideravelmente como as pessoas fazem as suas escolhas de vida, seus estudos, relacionamentos e trabalho.

Em uma reportagem intitulada “O ENEM não vai te deixar rico”, a revista Piauí mergulhou no universo dos jovens influenciadores digitais contrários à formação acadêmica, com o argumento de que é possível ganhar muito mais dinheiro trabalhando com investimentos ou marketing digital, que resumidamente é vender qualquer coisa na internet. Produtos da “cultura coach”, esses jovens mobilizam legiões de adolescentes a comprar seus cursos com fórmulas de como-ficar-rico.

Esse modo de estar na internet e de olhar para o mundo contemporâneo viola os direitos de milhares de crianças e adolescentes pelo trabalho infantil e exploração da imagem, inclusive de forma sexualizada, sem contar os outros prejuízos psicosociais originados pelo incentivo à ambição financeira em detrimento da formação intelectual ainda na infância e a superexposição pessoal no ambiente digital, cujos principais promotores são os próprios pais ou responsáveis.

Na maioria das vezes essas fórmulas prontas não trazem os benefícios financeiros esperados, o que na perspectiva da “cultura coach” é considerado um problema de fracasso individual, de mindset errado, ou seja, uma mentalidade errada que impede a pessoa de ganhar muito dinheiro rápido.

Mas o que especialistas em direitos da criança e do adolescente afirmam sobre esses casos é que

“oportunidades de ganhar grandes quantias de dinheiro muito rápido pela internet” envolvendo menores de idade geralmente se tratam de esquemas fraudulentos, golpes financeiros e estelionatos de toda a sorte, que são facilitados pelas empresas de tecnologia ao não apresentarem agilidade no cumprimento das regras de segurança e privacidade das plataformas e dos países onde têm atividades.

A informalidade no trabalho, baixos salários e a falta de oportunidades para desenvolvimento de carreira para jovens pobres e das regiões periféricas podem proporcionar um cenário ideal para a falta de esperança nos estudos, porque os problemas que esses jovens enfrentam são urgentes e estudar leva muito tempo para mudar a vida.

Mas um estudo de 2024 do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV Ibre) mostra que trabalhadores com 16 anos ou mais de estudos (superior completo ou além) ganhavam, em média, 126% a mais que trabalhadores com 12 a 15 anos de estudo (médio completo e superior incompleto). Os pesquisadores não fizeram simplesmente uma média de salários nessa pesquisa, mas compararam pessoas com experiências parecidas.

Essa diferença de salário é chamada “retorno da educação”, que de fato, vem diminuindo no Brasil desde 2012 por diversas questões que são elaboradas neste estudo, mas demonstra que o ensino superior é de fato um divisor de águas no nosso país.

Em 2025 o Instituto Minas Programam promove o programa daqui pra frente >>, com o objetivo de mapear os caminhos até o ensino superior para meninas e mulheres negras, indígenas e periféricas no Brasil.


Este texto é o terceiro de uma série de 4 publicações que apresentarão os detalhes desse nosso novo programa. Primeiramente, falamos como a pandemia de COVID-19 trouxe novos desafios para as estudantes negras e periféricas no ensino básico. [ Leia aqui. ]

 

No segundo texto, abordamos como as questões sociais e econômicas criam barreiras para a continuidade dos estudos no ensino médio e superior. [ Leia aqui. ]

 

No próximo texto da série, vamos apresentar as propostas do programa daqui pra frente >>.

 

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