Oi, gente!

Voltamos com a série de entrevistas com mulheres negras que trabalham com tecnologia. Hoje entrevistamos a Marylly Silva, que é uma das organizadoras do Minas Programam. Ela é formada em Sistemas de Informação, e atua na área desde os 15 anos.

 

Minas Programam: Conta um pouco da sua trajetória pra gente?

Marylly Silva: Comecei trabalhando com TI por pura curiosidade num estágio como secretária na prefeitura ao 15 anos, 1 ano depois consegui meu primeiro emprego com programação PHP com MySQL, e nunca mais parei. Foi algo meio natural, na época era diferente de hoje, tinha internet, mas não existiam canais para aprender conteúdos sozinha como hoje. Quando decidi entrar na universidade, foi um pouco por pressão dos meus pais, mas eu já trabalhava como analista programadora numa indústria no Grande ABC em SP, então foi muito importante. Comecei estudando Ciência da Computação, mas após 2 anos optei por mudar para Sistemas de Informação já que estava trabalhando como analista de sistemas.

Na universidade eu sofri bastante pelo fato de ser mulher, existia um isolamento quase constante, só tive alguns amigos nos últimos 2 anos. Muitos trabalhos eu fazia sozinha e evitava contato com outros alunos com medo de falar algo que eles pudessem usar para falar coisas desagradáveis. Sofri assédio sexual na universidade por professor e em empresas algumas vezes também, o que minou um pouco minha vaidade. Sofri boicote de homens e mulheres, o que me impediu de avançar profissionalmente diversas vezes.

Minas Programam: Com o que você trabalha hoje? Como foi a sua trajetória de carreira?

Marylly Silva: Eu sempre trabalhei com desenvolvimento de software, comecei como aprendiz, fui programadora e depois permaneci muito tempo como analista programadora. Trabalho tanto com a concepção até a sua construção, com muito código. Sempre me esforcei para me manter na área técnica fugindo de atividades de gestão e controle que em muitas situações, somos colocadas para desempenhar. Mudei várias vezes de emprego atrás de oportunidades melhores de desenvolvimento profissional, ambiente de trabalho e salário, o que me fez passar por 9 empresas, além de alguns projetos. Mas sempre fui para oportunidades melhores, e conheci pessoas incríveis até o momento que sempre me salvaram em momentos difíceis para conseguir novas oportunidades e projetos. Eu sempre achei que a minha vida seria ser sempre analista programadora para não me afastar da área técnica, mas hoje me vejo como engenheira de software e estou ingressando numa jornada para me tornar uma futura líder técnica de projetos.

Minas Programam: Quais foram as oportunidades ou os acontecimentos que fizeram a diferença na sua carreira?

Marylly Silva: As coisas que fizeram diferença foi estar perto das pessoas que eram excelentes no que faziam e que gostavam de ensinar. Demorou muito tempo para perceber que eu deveria buscar um lugar para trabalhar com as melhores pessoas e as que mais estavam preocupadas em ensinar outras pessoas. Após perceber isso, mudei muitas vezes de emprego até encontrar os melhores lugares, melhores aprendizados e melhores colegas e amigos de trabalho – que são aquelas pessoas que crescem e nos levam junto, e é claro, que nos fazem nos tornarmos a pessoa que cresce e leva outras pessoas junto. É isso que fez toda a diferença.

Minas Programam: Como você se envolveu com o Minas Programam?

Marylly Silva: Conheci o Minas Programam numa empresa em que era colega de trabalho de uma das fundadoras do projeto, Ariane Cor. Eu atuava como desenvolvedora e trabalhei com gestão de um projeto [da empresa] em alguns momentos. Falava diretamente com a Ariane para tratar das expectativas do cliente em relação a interface e funcionalidades da aplicação que estávamos desenvolvendo. Em muitas vezes ela me chamava entusiasmadamente para atuar como instrutora no Minas Programam. E finalmente em 2017 eu fui participar do projeto: mergulhei no curso anual e me entreguei ao Minas Programam. Após o término nessa edição de 2017, fui convidada para que ajudar com a organização do projeto. Trabalho com a coordenação pedagógica e para apoiar as alunas e instrutoras do projeto.

Minas Programam: Como é dar aula no Minas Programam?

Marylly Silva: A experiência é sempre muito rica em muita alegria e emoção, porque me reconheço em muitas meninas e mulheres em muitos momentos em minha vida. Nos envolvemos de corpo e alma com as alunas durante o curso, e o sucesso e felicidade delas, acabam sendo nossos também. Ao longo do curso, enxerguei muito potencial nas alunas (que muitas vezes eu não via em mim mesma). E isso foi determinante para eu ver com mais clareza o que eu queria profissionalmente, e agora estou definindo o meu propósito pessoal, dois mundos que hoje andam de mãos dadas.

E mais do que ver essas mudanças acontecerem em nossas vidas pontualmente, hoje consigo ver a diferença que estamos fazendo que vai muito além de munir essas mulheres com ferramentas e conhecimento. Estamos criando agentes de mudança no nosso meio, em nossas vidas, em nossas cidades, e vejo o impacto no país e no mundo, e não quero mais deixar de participar dessa loucura sadia e cheia de amor que é se importar com nossas semelhantes, nossas próximas, criando essa energia imensamente positiva e envolvente que é o nosso incrível projeto Minas Programam.