Depois de muito tempo sem escrever aqui sobre nossas leituras, resolvemos compartilhar sobre Misogynoir Transformed: Black Women’s Digital Resistance, da autora Moya Bailey. Lemos o livro no primeiro semestre de 2022 e recomendamos muito para quem se interessa por saber mais sobre como mulheres negras adotam estratégias para resistir contra racismo e machismo na internet e nas redes sociais.

Moya Bailey é professora do departamento de estudos de Comunicação da Universidade Northwestern e sua pesquisa se concentra no uso de mídias digitais por mulheres negras nos EUA para promover justiça social, através de auto-afirmação e defesa da saúde. Em maio de 2021, Bailey publicou o livro Misogynoir Transformed, que mostra como mulheres negras usam redes sociais para confrontar misoginia e racismo, de formas corajosas e criativas. 

O que é misogynoir?

Em 2010, Bailey cunhou o termo misogynoir, que vem da união das palavras misoginia (misogyny, em inglês) e negro (noir, em francês). O neologismo se refere às formas com as quais representações racistas e misóginas na nossa cultura e nos espaços digitais contribuem para moldar as ideias e percepções que a sociedade tem sobre mulheres negras. Em seu livro, Bailey explica que misogynoir “é onde racismo e sexismo se encontram”, é uma forma de entender a misoginia direcionada a mulheres negras. No contexto das redes sociais, isso significa que mulheres enfrentam racismo e machismo não como formas separadas de preconceito, mas como uma “fusão inseparável de toxicidade”.

Entendendo a ideia de transformar “misogynoir”: 

Para Bailey, a ideia de “transformação da misogynoir” se refere às maneiras com as quais mulheres negras e pessoas negras não-binárias, de gênero e variantes de gênero trabalham para transformar a toxicidade de representações midiáticas racistas e misóginas.

Em Misogynoir Transformed, Bailey mostra como mulheres negras estão reimaginando o mundo, engajando em diversas formas de resistência digital, em um período quando ataques contra mulheres negras nas redes sociais continuam a acontecer. Essa resistência acontece em muitas frentes, com a publicação de novos conteúdos, a organização de grupos e redes, a criação de espaços para mobilização coletiva e o compartilhamento de recursos e informações. 

Bailey argumenta que a resistência digital de mulheres negras por meio da criação de conteúdo que desafia representações racistas e/ou misóginas é uma forma de autopreservação que rompe a narrativa dominante que promulga essas visões. Ao longo dos capítulos, conhecemos exemplos práticos da resistência de mulheres negras, como a hashtag #GirlsLikeUs, a campanha em apoio à ativista CeCe McDonald, webséries produzidas independentemente por mulheres negras e a criação de comunidades em redes sociais.

Alquimia digital: as resistências de mulheres negras 

Bailey constrói a ideia de “alquimia digital” (ou, na versão original em inglês, digital alchemy): uma práxis projetada para criar melhores representações de pessoas marginalizadas, por meio da implementação de redes de cuidado para além dos limites do digital. Em outras palavras, o conceito de “alquimia digital” se refere a como mulheres negras transformam mídias digitais cotidianas (como redes sociais, blogs, e outras plataformas) em ferramentas de justiça social. 

A autora fala de dois tipos de “alquimia digital”: defensiva, que responde ou reage a representações e/ou instâncias de misogynoir (por exemplo, hashtags ou campanhas em resposta a situações específicas), e generativa, que surge e se move de forma mais independente, a partir do desejo de criar novas formas de representação para mulheres negras (como webséries criadas para retratar as vidas de mulheres negras a partir de suas próprias perspectivas).

Precisamos registrar mais as formas com as quais mulheres negras têm movido e transformado a internet  

Ao longo do livro, Bailey conta que uma de suas motivações para escrever é o fato de que grande parte do trabalho e das realizações de mulheres negras na internet são invisibilizadas. Uma das pessoas entrevistadas para o livro, Antoinette Luna Myers, explica: “a internet tem muita memória, mas de alguma forma, por algum motivo, ela não parece lembrar que mulheres negras foram criadoras de coisas”. Myers foi criadora do (já deletado) site Ancestry in Progress e reforça que é importante que seja criado um arquivo, um “repositório digital” que mostre como mulheres negras (ativistas, criadoras, escritoras e mais!), têm movido e moldado a internet que temos hoje.  

Saiba mais!

Esse texto é só um breve resumo de algumas das ideias que ficaram com a gente depois da leitura, mas o livro Misogynoir Transformed é vasto em conteúdo! Para quem ficou com vontade de aprender mais, recomendamos: