Ao longo do mês de abril nos dedicamos à leitura do livro “Design Justice: Community-Led Practices to Build the Worlds We Need (em português, “Design Justice: práticas lideradas por comunidades para construir os mundos que precisamos”). A autora, Sasha Costanza-Chock, é designer e professora do MIT e de Harvard, onde pesquisa temas como a relação entre design, movimentos sociais e mídias.

Em suma, “Design justice” é uma abordagem que pensa o design como uma prática liderada por comunidades marginalizadas e que explicitamente se propõe a desafiar as desigualdades estruturais.  Para fundamentar esse conceito, Chock se apoia nos trabalhos de diversas teóricas do pensamento feminista negro, como Patricia Hill Collins e bell hooks. A autora mostra que, uma vez que cada pessoa ocupa um lugar específico na nossa sociedade (de acordo com fatores como gênero, raça, classe, e outros), as consequências de um projeto de design serão vividas de forma diferentes para cada uma de nós. Em outras palavras, uma tecnologia digital que confere privilégios a uma pessoa, pode prejudicar outra. Por isso, é preciso reconhecer essas desigualdades e adotar práticas de design que não as reproduzam.

A ideia de “design justice” surge com a Rede Design Justice, um grupo internacional de pessoas e organizações que procura repensar processos de design, para que eles tenham no seu cerne as pessoas que normalmente são excluídas dessa área. Os princípios dessa rede — esmiuçados por Chock ao longo do livro — são fundamentados na vontade de priorizar o impacto do design nas comunidades, e não as intenções de designers. A ideia é que o design atue para sustentar e apoiar comunidades. Nessa visão, designers não são especialistas, mas sim facilitadores.

Foto de um leitor digital com o livro “Design Justice”, de Sasha Costanza-Chock,.

 A leitura de Design Justice mostra que é possível re-imaginar um design liderado por comunidades marginalizadas, que sirva como uma ferramenta para desmantelar desigualdades e contribuir para libertação coletiva. Abaixo listamos algumas das muitas ideias incríveis deste livro:

  • Design — por quê isso importa? O livro descreve design como um processo que atravessa as nossas vidas de diferentes formas: na arquitetura das nossas cidades, na elaboração dos nossos sistemas de saúde, e em muitas formas de tecnologias digitais que usamos e que nos afetam (às vezes até sem nosso conhecimento). A autora vê designers como pessoas que podem construir os mundos que queremos e precisamos. Aqui, designers são desenvolvedora/es de software, engenheiras/os, arquiteta/os, programadoras/es e outras pessoas que contribuem para moldar nossa realidade. Ela também fala sobre como, na verdade, todas as pessoas poderiam e deveriam participar de processos de design.
  • Processos de design têm consequências e resultados que diferem de acordo com nossas posições na sociedade. E aqui, o que importa não são as intenções por trás de um determinado projeto, e sim as consequências que ele gerou. Precisamos estar atentas ao que produzimos, como produzimos, com quem produzimos e que resultados obtemos. 
  • Além de mais diversidade, precisamos de tecnologia que tenha valores de justiça social. O livro foca bastante em design de tecnologias digitais. A autora fala sobre como é preciso de mais diversidade na criação de tecnologia, mas ressalta a importância de que os processos sejam também guiados por valores e práticas ligados à justiça social. 
  • É importante reconfigurar espaços onde a criação de novas tecnologias acontece. Eles precisam ser acolhedores para pessoas marginalizadas. Eles precisam ser transformados em lugares focados em justiça social.

O livro Design Justice é mais do que um chamado para  o aumento da  diversidade ou para “design do bem” (design for good): o livro mostra como o design pode ser uma ferramenta para lutas anti-opressão. Para quem ficou interessada, aqui estão alguns link legais:

  • a cada mês um capítulo diferente está sendo disponibilizado gratuitamente no PubPub (em inglês). 
  • palestra de Chock falando sobre a relação entre design, poder e justiça (em inglês).
  • resenha do livro por MIT News (em inglês).