Oi, minas!

Em 2020 nós acompanhamos o grupo de leitura do livro Data Feminism, escrito pelas pesquisadoras Catherine D’Ignazio e Lauren F. Klein. Neste começo de ano, nos dedicamos a ler a obra completa, que acreditamos ser essencial para qualquer pessoa interessada nos estudos da intersecção de tecnologia e sociedade.

A ciência de dados é uma forma de poder. E por isso é importante questionar: a ciência de dados é feita por quem? E a ciência de dados existe para quem? Com essas (e outras) questões como plano de fundo, as autoras se apoiam em um arcabouço teórico elaborado por feministas negras interseccionais e propõem uma nova forma de pensar sobre ciência de dados.

O que é “data feminism”?

O conceito de Data Feminism (ou feminismo de dados, em uma tradução livre) é uma forma de pensar em ciência de dados, considerando seus usos e seus limites, que é informada pela experiência das pessoas, pelo comprometimento com mudança e pelo feminismo interseccional.

Nesse sentido, o feminismo de dados visa entender como as práticas tradicionais da ciência de dados funcionam para reforçar desigualdades existentes e, ao mesmo tempo, procura encontrar formas de usar ciências de dados para desafiar e mudar a distribuição de poder. Uma coisa fundamental do feminismo de dados é entender que os sistemas de opressão afetam todas as pessoas (ainda que de maneiras muito diferentes) e que cientistas de dados precisam se comprometer a usar essa ciência de forma a alcançar a justiça social.

Como o feminismo de dados acontece na prática?

Baseadas em fundamentos do pensamento feminista interseccional, as autoras elaboraram sete princípios do feminismo de dados, listados abaixo. Cada capítulo do livro examina cada um dos princípios, trazendo muitos exemplos de projetos, coletivos e pesquisas que colocam o feminismo de dados em prática.

  • Examinar o poder: o feminismo de dados começa através da análise de como o poder opera no mundo.
  • Desafiar o poder: o feminismo de dados se compromete a desafiar estruturas de poder desiguais e a trabalhar pela justiça.
  • Elevar a emoção e as vivências:  o feminismo de dados ensina a valorizar múltiplas formas de conhecimento, incluindo o conhecimento que emerge das diferentes vivências.
  • Repensar binarismos e hierarquias:  o feminismo de dados requer que nós desafiemos binarismos de gênero, assim como outros sistemas de contagem e classificação que perpetuem opressão. 
  • Abraçar o pluralismo:  o feminismo de dados insiste que o conhecimento mais completo vem da síntese de múltiplas perspectivas, dando prioridade para formas de saber locais, indígenas e baseadas na experiência.
  • Considerar o contexto: o feminismo de dados defende que os dados não são neutros nem objetivos. Eles são produtos de relações sociais desiguais e esse contexto é essencial para conduzir análises éticas e precisas.
  • Mostrar o trabalho:  o trabalho da ciência de dados, como qualquer outro trabalho, é feito por muitas mãos. O feminismo de dados faz com que esse trabalho seja visível, para que seja reconhecido e valorizado.

Data Feminism é uma obra que enriquece o repertório de qualquer pessoa interessada em tecnologia e oferece caminhos para cientistas de dados que queiram combater as assimetrias de poder transmitidas através de ciência de dados. Acima de tudo, Data Feminism é uma leitura que nos faz refletir sobre nossos modos de trabalhar, nos faz contemplar novas possibilidades de atuação e nos oferece inspiração para colocar fundamentos do feminismo interseccional em prática no contexto da ciência de dados. 

Estamos torcendo para que o livro seja traduzido para o português em breve! 🙂