A experiência de uma mulher negra estudando Ciência da Computação na Universidade de Stanford

Por Alona L King – Texto originalmente publicado em The Odyssey.

Como uma mulher negra estudando Ciência da Computação em Stanford, eu odeio andar pelos corredores do prédio Gates Computer Science. Não é porque o interior do prédio me lembra a década de 70, apesar de ter sido construído nos anos 90. Não é por causa das memórias que eu tenho de uma aula que praticamente me fazia virar as noites no prédio. É porque, inevitavelmente, sempre que eu entro no prédio, me deparo com as quatro palavras que todo mundo que é minoria no mercado de TI escuta:

– Oi, você tá perdida?

Eu me viro pra olhar. Hoje a culpada é uma menina indiana de aparência amigável que eu reconheço da aula. Ontem foi um cara branco muito preocupado. “Não, não estou perdida”. Eu sei exatamente onde estou indo.

(Nota mental, ideia pra uma start-up: vender camisetas para pessoas negras que trabalham com TI estampada com os dizeres “não, não estou perdida”).

Mas falando sério, às vezes eu faço um jogo comigo mesma: conto quantos passos confiantes consigo dar dentro do prédio antes que alguém me pergunte o que estou fazendo ali.

Em outros lugares do campus, a sensação de exclusão do mundo da tecnologia se pronuncia de maneiras menos evidentes, mas mais perturbadoras. A ameaça de ser estereotipado e o sentimento de isolamento são obstáculos que muitos estudantes não-brancos encaram no meu campo de estudo. Na Ciência da Computação, ainda existe uma noção palpável de que minorias são inferiores, portanto, achar duplas de laboratório e colegas de estudos nas aulas é uma tarefa difícil. Para desviar das constantes microagressões, eu e minhas colegas de curso negras aprendemos a coordenar nossos horários de aula, de forma que sempre temos uma parceira de laboratório ou uma dupla de estudos.

Esses problemas são ainda mais exacerbados em aulas onde ainda não compreendem que o mercado de tecnologia tem um problema de diversidade. Não é segredo nenhum que a aula introdutória do curso acaba fazendo com que muito aspirantes desistam. Muitas vezes, isto significa que lá pela sexta semana do curso de 10 semanas, as matrículas caem drasticamente, fazendo com que uma sala originalmente diversificada acabe virando uma sala exclusivamente composta de homens brancos e asiáticos.
Ser uma mulher negra que passou nessa aula introdutória é quase como ser um unicórnio, e isso é uma bosta.

Dito isso, eu gosto sim de estudar Ciência da Computação em Stanford. Eu amo aprender como ser autossuficiente quando o assunto é transformar minhas ideias em produtos e aplicativos. Além disso, em relação a outras instituições de ensino, as proporções de raça e gênero no curso de Ciência da Computação da minha Universidade parecem ser ligeiramente mais equilibradas. E o nome Stanford também vem com uma quantidade enorme de poder. É um luxo poder citar essa instituição quando quero ser levada a sério. Minha esperança é que, através dos projetos nos quais estou trabalhando, eu possa usar esse poder de forma boa, criando mais espaços para minorias na tecnologia.

Enquanto isso, se você me encontrar no prédio de Ciências da Computação, me pergunta sobre o novo aplicativo que estou montando ou sobre o que estou ensinando para os meus alunos essa semana.
Só não me pergunte se estou perdida.


Texto traduzido por participantes do projeto Minas Programam.