Sempre que pensamos em cientistas imaginamos pessoas que passam os dias trabalhando no laboratório com elementos químicos. Porém, existem muitas formas de “fazer ciência”. Cientistas podem trabalhar com sociologia, com matemática, com informática, com gastronomia… todas as profissões possuem seus “cientistas” e a ligação entre eles não é o jaleco ou microscópio, mas sim os objetivos de produzir inovação na sua área de pesquisa, tornar processos mais simples e descobrir coisas novas. E na maioria dos casos essas atividades estão relacionadas ao uso de tecnologia para o processamento de dados e realização de experiências.

Considerando isso, ser cientista não tem a ver com gênero, certo? Homens, mulheres, meninas,  meninos e pessoas que não estão no espectro binário de gênero poderiam se interessar por fazer ciência e pesquisa de maneira igualitária, não é mesmo? 

Em tese sim! Porém de acordo com o Instituto de Estatísticas da UNESCO (UNESCO-UIS), apenas 28% dos pesquisadores do mundo são mulheres e quando pensamos em mulheres negras essa porcentagem é ainda menor. Ou seja, mesmo com todos os avanços relacionados a igualdade de gênero no mundo, as mulheres e meninas continuam sub-representadas nos campos da ciência, tecnologia, engenharia e matemáticas, tanto no âmbito da graduação quanto no âmbito das pesquisas. E nos campos científicos onde as mulheres estão presentes, como a sociologia e o direito, elas são sub-representadas nas decisões políticas tomadas nos mais altos níveis da pesquisa científica, o que implica em um baixo nível de reconhecimento das mulheres cientistas por meio de premiações e divulgações de seus estudos. 

A consequência mais grave dessa situação é que por não estarem nos ambientes nos quais as inovações são produzidas, dificilmente as experiências e necessidades de meninas e mulheres são levadas em consideração durante o processo de produção científica. O conhecimento acaba direcionado apenas para atender as demandas masculinas.  

Outro resultado da sub-representação de mulheres na ciência é a crença de que mulheres e meninas não podem trabalhar com ciência e/ou não são tão boas pesquisadoras quanto os homens. Portanto, promover a igualdade da participação de mulheres na ciência requer um pouco mais do que a simples expansão do ensino sobre pesquisa científica nas escolas e universidades. Requer observarmos com mais atenção as conquistas de pesquisadoras em todas as áreas e incentivar meninas e mulheres a acreditarem que possuem o poder de explorar, inovar, inventar e pesquisar. O dia 11 de fevereiro, Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, foi escolhido pela Organização das Nações Unidas (ONU), justamente, para nos lembrar disso!  Desde 2015, nesse dia, especialistas se reúnem para conversar sobre os avanços e retrocessos da política internacional pela igualdade de gênero na ciência. 

Pensando nessa data, nós do Minas Programam fizemos uma pequena seleção de 4 mulheres negras cientistas que romperam com os estereótipos sobre mulheres e pesquisa, veja só: 

  • Mae Jemison: Foi a primeira mulher negra a viajar para o espaço há dezoito anos atrás, em 1992. Ela cursou Engenharia Química na Universidade de Stanford com uma bolsa de estudos e depois se especializou em medicina. A Mae Jemison desenvolveu um sistema de telecomunicações por satélite para melhorar os cuidados médicos nos países em desenvolvimento. Hoje, com 63 anos, ela participa de diversas organizações acadêmicas importantes nos Estados Unidos promovendo educação científica.
  • Virginia Leone Bicudo: Foi a primeira pesquisadora e professora negra a ocupar um lugar de destaque na divulgação e construção da psicanálise no Brasil. Ela se formou em sociologia e em seu mestrado desenvolveu um dos primeiros trabalhos de pós-graduação em Ciências Sociais no Brasil sobre as relações raciais de pretos e pardos na cidade de São Paulo. 
  • Sonia Guimarães: É a primeira mulher negra doutora em física no Brasil e foi também a primeira a dar aula no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). Ela se formou em Física pela Universidade de São Carlos, se especializou em química de materiais e fez seu doutorado na Universidade de Manchester na Inglaterra. Hoje ela é uma das mantenedoras da Universidade Zumbi dos Palmares e trabalha com projetos sobre educação em comunidades carentes.
  • Patricia Era Bath: Foi a primeira mulher a liderar um programa de pós-graduação em oftalmologia e a primeira mulher eleita para o quadro honorário do Centro Médico da Universidade da Califórnia em Los Angeles. Além disso, ela foi a primeira mulher negra norte-americana a receber uma patente. Ao longo de sua trajetória como médica oftalmologista ela conquistou ao todo cinco patentes e fundou o Instituto Americano para a Prevenção da Cegueira, sem fins lucrativos, em Washington

Quando lemos as histórias dessas mulheres, por vezes, podemos ficar com a impressão de que são trajetórias excepcionais e distantes demais da realidade da maioria de nós. Afinal, elas foram as primeiras a realizar muitas coisas. O Minas Programam acredita que valorizando as histórias dessas mulheres nós vamos aos poucos entendendo que elas abriram caminhos possíveis para toda menina que quiser ser uma cientista.