A entrevista de hoje é com Mariana Amarante. Ela é uma de três irmãs, e todas são das exatas! A Bárbara faz Engenharia de Materiais na UFS, a Débora estuda Engenharia Elétrica na UNESP e a Mariana faz Química Industrial na UFS. <3

A Mariana é de Sergipe, sempre se destacou na escola e se interessou pela Química logo cedo. Atualmente, ela desenvolve um projeto com a UFS e a Embrapa sobre o uso de óleos essenciais para tratamento de pragas agrícolas. Ela contou que não há muitas muitas meninas negras no seu meio e já passou por situações de racismo na Universidade. durante nossa conversa, Mariana reforçou a importância da representatividade: assim, as meninas negras têm exemplos a seguir e incentivo para ficar nas exatas.

No caso de Mariana, Bárbara e Débora, o acesso a boas escolas e o apoio dos pais foi decisivo: “graças aos meus pais eu e minhas irmãs pudemos chegar onde estamos agora”, conta Mariana, “sempre tivemos estimulo para prosseguir com a vida acadêmica e sempre mostrar excelência”.

Leia a entrevista na íntegra abaixo:

Minas Programam: Será que você pode me contar um pouco da sua história? 

Mariana Amarante: Meu nome é Mariana Amarante Teles, sou de Sergipe, tenho 26 anos e estou terminando Química Industrial na Universidade Federal de Sergipe. Tenho duas irmãs que seguiram para as exatas também, Bárbara que faz Engenharia de Materiais na UFS também e Débora que faz Engenharia Elétrica na UNESP. Eu fui o caso clássico da aluna que se destacava na escola, particular e católica, uma das poucas alunas negras e sempre fui muito curiosa em relação a tudo. Da filosofia até cultura pop em geral. E quando comecei a estudar Química na escola me apaixonei sem ver a quem. Quando fiz o vestibular, fiquei em dúvida sobre Química Industrial e Engenharia Química; mas meu amor pelo laboratório falou mais alto e decidi pela Química Industrial. Passei no vestibular em Universidades em Sergipe e na Paraíba, mas decidi ficar em casa. Além do meu amor pelas artes em geral e fiz Design Gráfico, e cogitei fazer Cinema. Porque não é por fazer exatas que você tem que deixar seus lados artísticos de lado. Além disso, atualmente tenho um projeto com a UFS e a Embrapa com o uso de óleos essenciais para tratamento de pragas agrícolas

Minas Programam: Como você escolheu sua área de atuação? Por quê escolheu estudar/trabalhar com isso?

Mariana Amarante: Como disse, [o que me incentivou foi minha] paixão pela Química na escola, e o incentivo de meus pais e professores. Laboratórios sempre me fascinaram e eu não tinha dúvida do que queria. Além disso (sem querer fazer politicagem), fui motivada pelo o alto índice de emprego com o governo Lula e o sonho de entrar na Petrobras, assim como meu pai.

Minas Programam: O racismo e o machismo estão presentes nas trajetórias de todas de nós, mulheres negras. Você teve/tem que lidar com isso nas instituições (de ensino e de trabalho) que você frequenta? Se sim, como foi essa experiência? Quais os principais obstáculos que enfrentou?

Mariana Amarante: Sempre tem que lidar com o racismo, ainda mais em Universidades federais. Onde os professores muitas vezes fazem “piada” com isso, mas dizem pra não levar a sério. E você ali, como aluna, não tem muito o que dizer ou o que fazer. Além de tudo tenho o “plus” da homossexualidade e tenho que lidar com piadas todo o tempo. Mas não me deixo abater e tento mostrar que chegamos nas exatas pra ficar e terão mais de nós por vir.

Minas Programam: É importante que discutamos gênero e raça nas ciências e tecnologia?

Mariana Amarante: MUITO! Tentei desenvolver um projeto de discussão sobre racismo nas exatas, tanto na Universidade, quanto no mercado de trabalho. As Exatas, assim como Medicina e Direito, são áreas em que existe pouca representatividade negra. E os olhos da sociedade devem ser abertos para essa questão. Nossos gritos devem ser escutados e discutidos, de maneira intelectual onde possamos mostrar que estamos no mesmo nível que qualquer um.

Minas Programam: Vivemos em um contexto de constante menosprezo do intelecto das mulheres negras. Ao longo de suas trajetórias educacionais, meninas negras são pouco estimuladas a seguirem carreiras que fogem dos estereótipos de sempre. Como você acha que podemos quebrar esse ciclo? Que oportunidades fizeram a diferença pra você?

Mariana Amarante:  É o caminho mais difícil por ser a longo prazo, mas com a discussão e estímulo a essas meninas podemos alcançar ares jamais imagináveis. Já existe o trabalho da auto-estima, do empoderamento, do tombamento. Mas gostaria de ver esse mesmo trabalho direcionado para estimular as meninas para o ramo de tecnologia. Representatividade eu acho o caminho mais importante, Hidden Figures é uma fonte importante para esse tipo de representatividade. Angela Davis e assim como muitas outras mulheres negras, independente de sua área, devem ser usadas como estímulo. Eu, particularmente, tive sorte porque graças aos meus pais, eu e minhas irmãs pudemos chegar onde estamos agora. Sempre tivemos estímulo para prosseguir com a vida acadêmica e sempre mostrar excelência, para podermos discutir de igual para igual com qualquer um.