Oi, minas. A entrevista de hoje é com a Lhaís Rodrigues! Ela tem 20 anos, é desenvolvedora, feminista e uma das desenvolvedoras do app Mete a Colher, uma rede que conecta mulheres que sofrem violência doméstica ou vivem em relações abusivas a mulheres que estão dispostas a ajudá-las.
A estudante de Engenharia da Computação sempre teve facilidade para mexer em aparelhos eletrônicos e compreender como eles funcionavam, e assim, por incentivo da mãe, ingressou no curso técnico em Informática. Já na graduação, no seu primeiro estágio, Lhaís percebeu que seu destino era criar soluções para facilitar a vida das pessoas usando tecnologia.

Minas Programam: Oi, Lhaís, conta um pouco da sua história?

Lhaís Rodrigues: Meu nome é Lhaís Rodrigues, tenho 20 anos e sou desenvolvedora e estudante de Engenharia da Computação. Eu conheci a área de Tecnologia através do técnico de Informática que cursei e por incentivo da minha mãe que acreditava que “eu era bem desenrolada” para a área, mas na verdade, eu queria cursar química, entretanto em 6 meses do curso já estava apaixonada e decidi que seria isso que gostaria de fazer a minha vida inteira. Após o curso técnico, passei no vestibular e em 2 anos de curso, iniciei meu estágio como desenvolvedora e tive a prova que era aquilo que gostaria de trabalhar, fazer que é criar soluções para facilitar a vida das pessoas usando tecnologia. Atualmente, eu sou ativista na área realizando projetos e eventos que busquem incentivar a participação de mais mulheres e meninas para a área de Tecnologia, sou feminista assumida e faço parte de um projeto chamado Mete a Colher (https://www.facebook.com/appmeteacolher/) onde estou desenvolvendo o aplicativo que estará no ar no final de Março.

Minas Programam: Como você escolheu sua área de atuação? Por quê escolheu estudar/trabalhar com isso?

Lhaís Rodrigues: Eu escolhi estudar Engenharia da Computação após me formar no curso técnico em Informática. Desde pequena, eu acredito que representatividade é uma coisa muito importante. Como criança, eu tinha facilidade para mexer em aparelhos eletrônicos e compreender como eles funcionavam, meus pais notaram isso e minha mãe começou a incentivar que eu devia fazer algo relacionado a tecnologia, entretanto, na minha cabeça ser “a menina do computador” era imaginar uma pessoa estranha e fora de mim. Então, eu conheci a história de Marie Curie, e decidi que queria fazer química e ser como ela, virar cientista e descobrir a cura para diversas doenças. Mas, eu não fui muito bem sucedida e minha mãe acreditou que eu devia fazer Informática. No começo, eu só queria fazer o técnico e me livrar para depois, na graduação, fazer química. Mas com o tempo, eu peguei confiança e vi que era aquilo mesmo que gostaria de fazer e finalizei e continuei na área até hoje.

Minas Programam:  Você teve/tem que lidar com racismo e machismo nas instituições (de ensino e de trabalho) que você frequentou/frequenta? Se sim, como foi essa experiência? Quais os principais obstáculos que enfrentou?

Lhaís Rodrigues: Nunca passei por situações diretas de racismo na Universidade ou no trabalho, pois as pessoas me vêem como “morena”. Enquanto isso eu me vejo como negra mesmo, porque quando eu entro numa loja, às vezes, no shopping center sou muito julgada pela minha cor e isso é perceptível. Entretanto, o machismo é extremamente reconhecível. Eu lembro que antes de cursar o técnico, eu estudava o ensino fundamental numa escola particular, como bolsista, e eu gostava mais de conversas com assuntos como carros e etc. Conversas que são mais predominantes (infelizmente) nas rodas de meninos e eu era excluída e nem considerada, totalmente rejeitada. Isso me deixava irritada, porque eu não estava sendo julgada pelo meu “saber” ou “conhecimento” e sim pelo meu gênero. No meu ensino médio e técnico, eu era a melhor aluna da minha turma, mas como eu sou mulher, os meninos me consideravam um “menino”, só porque eu era muito inteligente e capaz de disputar com eles pau a pau, o que sinceramente é bem bizarro! Mas, o surpreendente foi que na Universidade o machismo se manifestou mais! E eu não acreditei pois no meio acadêmico, esperava encontrar pessoas adultas e já com focadas em serem profissionais melhores a cada dia. Mas não: me deparei com momentos constrangedores. Isso me entristeceu, porém me fortaleceu para movimentar a comunidade e ser mais ativista do que eu já era.

Minas Programam: Pra você, é importante que discutamos gênero e raça nas ciências e tecnologia? Por quê?

Lhaís Rodrigues: Claro, por serem considerados assuntos que não são pautas nas graduações de exatas, criamos profissionais machistas, como fica evidente no mercado de trabalho. Esses temas deveriam ser discutidos até nas empresas, pois são assuntos tão importantes como qualquer outro. E se possível, [essa discussão deve acontecer] rapidamente, pois com o tempo as empresas que não derem importância ao tema começaram a perder mão de obra talentosa.

Minas Programam: Vivemos em um contexto de constante menosprezo do intelecto das mulheres negras. Ao longo de suas trajetórias educacionais, meninas negras são pouco estimuladas a seguirem carreiras que fogem dos estereótipos de sempre. Como você acha que podemos quebrar esse ciclo? Que oportunidades fizeram a diferença pra você?

Lhaís Rodrigues: É perceptível que pessoas negras, e principalmente mulheres, tem bastante dificuldade de destaque. No meu caso, a minha diferença era que eu tive suporte dos meus pais. Por mais que fôssemos uma família de classe média baixa, em que alguns momentos eu não tinha material pra eu estudar ou meus pais não tinham condições de me dar um livro ou outro e eu tinha que me virar de alguma maneira. E eu sempre tinha eles me mostrando que estudar era o único meio de destaque pra mim, não por mérito, mas porque o conhecimento é a única coisa que as pessoas não podem tirar de mim.

Eu acredito que a inclusão deve ser persistente, não devemos hesitar pra os papos que dizem que toda essa luta de inclusão é “mimimi”, temos que continuar a incentivar mais a participação e empoderar mulheres negras para que elas sejam o que desejarem ser. Como exemplo, o filme Estrelas além do tempo (Hidden Figures) nos mostra que somos capazes de qualquer coisa.