Oi, minas. Hoje a entrevista é bem especial! Falamos com a Dani Monteiro, que será uma das professoras da próxima edição do curso Minas Programam (o curso vai acontecer em julho, em breve mais novidades). Ela é formada na FATEC, tem Mestrado em Engenharia da Computação e trabalha como Arquiteta de Dados.

Deficiente auditiva, negra, e filha de pais separados, a Dani conta que lidou com machismo e racismo ao longo da carreira: “Muitas vezes ouvi que parecia um homem programando… E muitas vezes perguntei se era para ser um elogio. Certa vez em um curso, no primeiro dia de aula um aluno disse que eu “parecia qualquer coisa, menos a professora”.

Nós do Minas Programam estamos MUITO FELIZES de poder contar com a Dani na próxima edição do nosso curso! 😉 Leiam a entrevista dela abaixo:

 

Minas Programam: Conta pra gente um pouco da sua história?

Danielle Monteiro: Quem sou eu? Sou a inquietação, a vontade de mudar, de ser diferente. Vou contar minha história e talvez fique mais fácil de me entender. Quando eu nasci minha bisavó perguntou se minha mãe me imaginava casando. Minha mãe, com 16 anos, disse que me imaginava entrando na faculdade.
Não estudar nunca foi uma opção, eu gostava de conhecer coisas, lugares, histórias. Deficiente auditiva, negra, filha de pais separados, eu gostava de contrariar o mundo e estar entre os melhores da sala, da escola, da cidade. Na época do vestibular não tinha dinheiro para pagar o cursinho. Por isso, trabalhava em um cursinho popular em troca da apostila e condução. Prestei o vestibular da FATEC-SP porque ganhei a inscrição, e passei. Fui a primeira pessoa da minha família a entrar na faculdade (e a primeira a terminar)! No segundo semente eu já fazia estágio na área de programação.
Mas como disse eu sou a inquietação. E após alguns anos programando fui trabalhar como DBA. O resultado foi ótimo, descobri que era isso que eu queria fazer! Passei a estudar muito mais, fiz cursos, tirei certificações, ministrei muitos treinamentos, trabalhei em empresas de vários tamanhos e em muitos projetos.
Fiz uma pós graduação e fui trabalhar na [B]3 (antiga BMFBovespa) a princípio como DBA. Até que surgiu a oportunidade de atuar como Arquiteta de Dados. Minha nova função me incentivou a ir além. E por isso fiz o mestrado em Engenharia da Computação. Sempre me perguntam se eu parei por aqui… Mas a verdade é que sou inquieta demais para saber! No curto prazo meus planos envolvem disseminar o conhecimento adquirido nos meus 15 anos na área de TI.
Minas Programam: Como foi a decisão de estudar e trabalhar com tecnologia?
Danielle Monteiro: Desde que comecei a programar gostei de trabalhar com dados. Por isso cada oportunidade de conhecer mais foi aproveitada. Hoje tenho a sorte de poder trabalhar e estudar algo que eu gosto muito!
Minas Programam: Você teve/tem que lidar com racismo e machismo nas instituições (de ensino e de trabalho) que você frequenta? Se sim, como foi essa experiência? Quais os principais obstáculos que enfrentou?
Danielle Monteiro:  Muitas vezes ouvi que parecia um homem programando… E muitas vezes perguntei se era para ser um elogio. Certa vez em um curso, no primeiro dia de aula um aluno disse que eu “parecia qualquer coisa, menos a professora”. O mesmo aluno disse no final do curso que foi uma grata surpresa ter tido o curso comigo. 😐 Em todos os episódios em que tive que lidar com racismo e machismo, lembro que vim ao mundo para ser diferente. Lembro que sou negra, deficiente auditiva, filha de pais separados, profissional, mestre e alguém que gosta de contrariar!
Minas Programam: Qual a importância de discutirmos gênero e raça nas ciências e tecnologia?
Danielle Monteiro: É muito importante!!! Estamos em 2017 e ainda há poucas pessoas negras na área de TI. Ao mesmo tempo, a quantidade de mulheres ainda é inferior à quantidade de homens. Temos que buscar uma sociedade mais justa, com oportunidades e incentivos para todos.
Minas Programam: Ao longo de nossas trajetórias educacionais, nós, mulheres negras, somos pouco estimuladas a seguirem carreiras que fogem dos estereótipos de sempre. Como você acha que podemos quebrar esse ciclo? Que oportunidades fizeram a diferença pra você?

Danielle Monteiro: Podemos e temos que quebrar este ciclo! Eu acho que a disseminação do conhecimento é a chave para atingir este objetivo. Sou uma pessoa de muita sorte: sempre fui estimulada a estudar e sempre ouvi que eu era capaz.

Minas Programam: Por que se interessou em dar aula no Minas Programam? 🙂

Danielle Monteiro: De verdade? Porque eu acho que juntas vamos mudar o mundo!