Oi, minas! A entrevistada de hoje é a Amanda Mendes. Ela é paulistana, mãe, analista de sistemas, e colaboradora da Women Techmakers São Paulo, uma comunidade independente que promove a visibilidade feminina na área de tecnologia.

A Amanda se apaixonou pela área de TI enquanto cursava um curso técnico em informática. Sua trajetória foi trabalhosa: filha única, Amanda perdeu a mãe aos 15 anos e aos 17, engravidou. Ela conta que no início da faculdade, enfrentou preconceito por parte de colegas e professores, mas com o apoio da comunidade de mulheres na tecnologia, se formou e hoje trabalha na área 🙂

Minas Programam: Conta pra gente um pouco da sua história? 

Amanda Mendes: Eu moro e nasci em São Paulo (amo minha cidade), sou analista de sistemas na Ericsson Brasil e contribuo com o Women Techmakers São Paulo. O WTM é uma comunidade independente, dentro do GDG São Paulo, que promove a visibilidade feminina na área de tecnologia (http://wtmsp.org/)

Conquistar meus objetivos e trabalhar com tecnologia foi um processo trabalhoso: sou filha única, e perdi minha mãe com 15 anos, aos 16 fui morar sozinha e descobri esse mundão. Aos 17 fiquei grávida e tive que parar de estudar, mais voltei com tudo o ano seguinte fazia supletivo de noite e técnico em informática de manhã.

Quando resolvi fazer a faculdade, não tinha grana para pagar e fui atrás de uma oportunidade de estudar dentro das minhas condições. Entrei em uma faculdade onde eu estava cursando o que eu amava, mas que não me deixava crescer e ampliar meus horizontes. Por isso mudei de faculdade e comecei tudo do zero (já tinha cursado 1 ano de ADS). Não me arrependo, pois lá [na nova faculdade] eu aprendi de verdade e consegui bolsa de estudos para mim e mais 10 pessoas. Meu sonho era estudar num lugar especializado em TI e consegui: me formei na Faculdade Impacta no ano passado, com bolsa de 50% do FIES.

Minas Programam: Como você escolheu sua área de atuação? Por quê escolheu estudar/trabalhar com isso?

Amanda Mendes: Tive a oportunidade de fazer um curso técnico em informática pelo SENAC e lá me apaixonei. Via, a cada dia que passava, o que eu realmente queria para mim. Tive um professor fantástico e apesar de ter somente duas meninas na sala não tinha preconceitos e todos se ajudavam. Depois desse curso eu senti lá na alma o que eu queria para minha vida, e resolvi seguir com TI.

Minas Programam: Você teve/tem que lidar com racismo e machismo nas instituições (de ensino e de trabalho) que você frequenta? Se sim, como foi essa experiência? Quais os principais obstáculos que enfrentou?

Amanda Mendes: Infelizmente sim, principalmente no começo da faculdade. Eu achava isso um absurdo e é assim que muitas meninas não aguentam e acabam desistindo. Enfrentávamos professores machistas que não tinham paciência para explicar quando alguém não entendia, fingiam que não nos ouviam e nos deixavam de DP por achar que ali não era lugar para nós mulheres. Tive colegas que chegavam fazendo piadas ofensivas e muitos não acreditaram no meu potencial.

Minha sorte é que eu acreditava muito em mim. Depois que consegui meu primeiro emprego na área eles começaram a me levar a sério e ver que eu estava ali porque realmente sabia o que estava fazendo. Na área profissional eu tive muita sorte entrei numa fábrica de software onde a equipe é bem mista e não tem preconceito todos me veem pelas minhas capacidades e não pelo meu gênero ou raça, mais sei que não é a realidade da maioria de nós.

Minas Programam: Qual a importância de discutirmos gênero e raça nas ciências e tecnologia?

Amanda Mendes: É importante para que tenhamos um ambiente mais saudável e justo. A sociedade precisa ver as pessoas como quem elas são, por suas competências e não por rótulos que ela coloca. Não existe profissão certa ou errada, e as pessoas vivem muito melhor e felizes quando fazem o que amam. A tecnologia é capaz de abrir e quebrar fronteiras em todos os aspectos: no mundo que vivemos hoje não devemos mais aceitar a opressão.

Minas Programam: Vivemos em um contexto de constante menosprezo do intelecto das mulheres negras: ao longo de suas trajetórias educacionais, meninas negras são pouco estimuladas a seguirem carreiras que fogem dos estereótipos de sempre. Como você acha que podemos quebrar esse ciclo? Que oportunidades fizeram a diferença pra você?

Amanda Mendes: Temos que desenvolver projetos e parcerias dentro das faculdades/escolas. Acredito que se conseguirmos criar uma boa semente lá no começo e as meninas se sentirem seguras o suficiente, elas mostrarão do que são capazes. O que mais fez diferença na minha vida foi a comunidade [de mulheres na tecnologia], para mim foi uma escola. Quando você se envolve com a comunidade, você não se sente sozinha: encontra outras meninas que passam ou passaram as mesmas dificuldades que você. E com isso acaba se sentindo forte e não desiste, sabe? Quando precisa de alguma coisa, tem onde se apoiar. A comunidade foi essencial para meu crescimento como pessoa e profissional.