Oi, minas! Hoje na nossa série de entrevistas com mulheres negras que trabalham com ciências e tecnologia temos a entrevista da Alessandra Gomes. Ela é belenense, graduada em Ciência da Computação pela Universidade Federal do Pará (UFPA) e mestra em Ciência da Computação pela UNICAMP.

A Alessandra sempre gostou de computadores e desde que teve seu primeiro computador, tinha vontade de entender como tudo era construído e assim nasceu a vontade de aprender a programar. Hoje ela é professora de computação do projeto PARFOR e da PROGNIT Cursos (uma empresa de cursos online voltados para programação aplicada em Ciência de Dados e – futuramente – Tecnologias Educacionais).

Ela conta que no ambiente de trabalho, as pessoas presumiam que, por ser negra, Alessandra provavelmente era funcionária de serviços gerais ou da lanchonete. Ela explica que “claro que não há problema algum em se trabalhar nos serviços gerais ou na lanchonete. O problema é a sociedade acreditar que estes são os únicos lugares que negros e negras devem trabalhar. A expressão de espanto no rosto destas pessoas em todos os momentos que disse que não trabalhava nos serviços gerais ou lanchonete denunciavam isso”.

Vejam a entrevista da Alessandra na íntegra abaixo:

Minas Programam: Será que você pode me contar um pouco da sua história?

Alessandra Gomes: Meu nome é Alessandra, sou de Belém-PA, sou formada em Ciência da Computação e tenho mestrado na mesma área. Atualmente atuo como professora de computação do projeto PARFOR e da PROGNIT Cursos (uma empresa de cursos online voltados para programação aplicada em Ciência de Dados e – futuramente – Tecnologias Educacionais). Além disso, também trabalho com projetos de desenvolvimento de Sistemas Web.

Minas Programam:: Como você escolheu sua área de atuação? Por quê escolheu estudar/trabalhar com isso?

Alessandra Gomes: Sempre gostei de computadores. O primeiro computador que tive acesso foi um Pentium 100 e, após mexer e jogar bastante, surgiu a curiosidade de saber como todos aqueles programas eram feitos. Algum tempo depois descobri que existia algo chamado programação e, neste momento, nasceu a vontade de aprender a programar. Como na época não achei nenhum curso de programação, acabei prestando vestibular para Ciência da Computação.

Minas Programam:: Você teve/tem que lidar com machismo e racismo nas instituições (de ensino e de trabalho) que você frequentou/frequenta? Se sim, como foi essa experiência?

Alessandra Gomes:  O machismo e o racismo sempre estiveram presentes. Quanto ao machismo, em ambientes de estudo, já aconteceram situações em que meu código precisou ser revisado por um homem para ser aprovado pelo professor, que pensava que eu havia copiado de alguém. Ou ainda, acreditava que meu programa não funcionava. Em ambiente de trabalho, aconteceram situações em que minhas propostas só eram reconhecidas depois que algum homem me apoiava. Outras situações foram não ser convidada para palestrar, para revisar trabalhos, etc.

Quando ao racismo, fui impedida algumas vezes de entrar em alguns ambientes (salas de diretoria, por exemplo), pois achavam que eu era dos serviços gerais. Também aconteceu de se dirigirem a mim para fazer pedidos na lanchonete. Claro que não há problema algum em se trabalhar nos serviços gerais ou na lanchonete. O problema é a sociedade acreditar que estes são os únicos lugares que negros e negras devem trabalhar. A expressão de espanto no rosto destas pessoas em todos os momentos que disse que não trabalhava nos serviços gerais ou lanchonete denunciavam isso.

Minas Programam: É importante que discutamos gênero e raça nas ciências e tecnologia?

Alessandra Gomes:  É bastante importante sim, pois acredito que só assim a situação começará a mudar. O machismo e racismo precisam ser expostos para que a sociedade entenda que eles são uma realidade e devem ser combatidos.

Minas Programam: Vivemos em um contexto de constante menosprezo do intelecto das mulheres negras. Ao longo de suas trajetórias educacionais, meninas negras são pouco estimuladas a seguirem carreiras que fogem dos estereótipos de sempre. Como você acha que podemos quebrar esse ciclo? Que oportunidades fizeram a diferença pra você?

Alessandra Gomes:  Acredito no diálogo e em políticas públicas. O diálogo é importante para que a sociedade tenha consciência da situação, mas como as mudanças são urgentes, políticas públicas devem acontecer em paralelo. São anos de Brasil liberto da escravidão, mas a população negra continua à margem da sociedade. Isso prova que intervenções são necessárias para que esse quadro mude. Quando a mim, acredito que o que mais fez diferença na minha vida foi ter a oportunidade de ter estudado durante toda a minha infância e adolescência sem precisar trabalhar. Pude me dedicar integralmente aos estudos. Isso me permitiu entrar em uma boa universidade, ter uma profissão e trabalhar já adulta. Essa base tem sido fundamental para que eu siga conquistando meus sonhos e os espaços que são negados para as mulheres negras neste país.